Foi numa tarde enfadada
Vestindo uma pele feita de nada
Que ansiava pela surdez da madrugada.
Escrevendo palavras cor de ferida
Num canto escuro, numa sombra escondida
Nutria um texto de volta à vida.
Envolto em cores que buscam as trevas
Deitado suavemente sobre as ervas
Ignorava o mundo diluindo-me nas eras.
E na tela da minha mente, projectada,
Estendia até ao horizonte, desengonçada,
A minha vida a minha estrada.
Como uma água encardida
Por montes e vales corria perdida
Para o mar como fora a mais pretendida.
E neste baile de esferas
Em que danço às cegas
Haverá tempo algum para esperas?
Saturday 26 September 2015
Wednesday 2 September 2015
Ferrolhos
Prende-me a mente na náusea
E cai em mim uma tristeza
Perante uma tal frieza
Que esconde a nossa coroa áurea.
O espaço constelado
Que irradia de um rosto
É de súbito condenado,
À chave trancado
Num quarto sagrado
E queimado por fogo posto.
Nesses discursos mórbidos,
Sopros de mofo, verbos apodrecidos
Nados mortos de ventres embriagados
Por cegueira fustigados,
Nadam sanguessugas fantasma
Que de células fazem ostras
Banqueteando-se de citoplasma
Sugam cor, sugam seiva
Sugam o fruto da leiva.
Olho para os fundos dos meus olhos
Onde bóiam estrelas e planetas
Crianças cósmicas, luzes aos molhos
Mil tons em mil paletas.
Abram a alma, soltem os ferrolhos,
Vivam e deixem-se de tretas!
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