Pensei em escrever um poema
numa noite de inverno escura
e, sabendo que as vezes a palavra cura
e quebra ao medo sua negra armadura,
ergui a minha pena.
Contemplei a folha alva
por alguns longos instantes
cinzentos como elefantes
tropeçando na crueza das consoantes
disparei tres versos de salva.
A sorte foi que a noite era longa
e amiga do pensamento
e dando-me palmadas de alento
revelando seu firmamento
lançou-me como o mar lança a onda
E como aquele que espera alcança
soltaram-se de dentro todas as cores
os belos cantares de todas as dores
e as lindas paisagens dos meus desamores
os negrumes vãos desta mera criança.
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